E SE VOCÊ FOSSE CANCELADO?

fevereiro 20, 2020

Cultura do Cancelamento: os impactos da tecnologia no desenvolvimento individual

Já parou pra pensar que figuras públicas que erram diante de alguma situação são automaticamente “boicotadas” da virtualidade? Agora, imagine se você – acredito que uma pessoa comum – também fosse avaliada dessa forma? Sem “nenhuma” possibilidade de assumir/reparar o erro frente às pessoas que o cercam ou recebendo doses de ódio todos os dias. Essa é a Cultura de Cancelamento, a nova queridinha da internet.

Classificada como termo do ano em 2019, pelo dicionário australiano Macquarie, a Cultura de Cancelamento se resume em atos conjuntos no ambiente virtual, onde pessoas decidem que uma figura pública está errada e, por esse motivo deve ser boicotada, esquecida, e no termo mais popular, cancelada. Um exemplo recente é o caso da blogueira Bianca Andrade, participante do Big Brother Brasil 20. Em momentos específicos do reality, Boca Rosa – como é conhecida – foi considerada antifeminista pelos internautas, chegando aos Trending Topics do Twitter. Em poucos segundos, Bia foi cancelada pelo tribunal da internet e assim é em muitas outras situações, envolvendo outros nichos do mundo digital.

Shutterstock/Pepsco Studio

Vale evidenciar que considerar os danos da Cultura de Cancelamento não é concordar com a moralidade dos protagonistas que temos como exemplo – ou seja, as figuras públicas. Mas, é, antes de tudo, validar o argumento de que o problema não desaparece de repente, só porque a maioria quis assim. O problema continua ali, apesar de não ser físico. A explicação disso tudo, talvez esteja no modo como a sociedade se comporta, imersa em um ambiente virtual.

Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman – utilizado com frequência atualmente -, o advento da internet, trouxe à sociedade o imediatismo: conseguimos as coisas mais depressa, consumimos conteúdos rapidamente, criando uma dependência. Isso também pode se aplicar nas relações: perante algumas situações, nas quais o indivíduo depara-se com impasses no que diz respeito o outro, ele resolve arquivar a questão em sua “pasta”, cancelando algo ou alguém como forma de solucionar tudo de forma mais prática.


Em um episódio do podcast Bom dia, Obvius da Obvius Agency – agência digital -, Marcela Ceribelle(CEO e diretora criativa) , Stephanie Noelle(publicitária e podcaster) e Laura Vicente (atriz e apresentadora), explicam que a internet possibilita a democratização do acesso à informação, gerando proximidade entre quem produz e quem consome os conteúdos, facilitando dessa forma, tanto o contato com os haters como a própria cultura do cancelamento.

Nos tempos em que a internet vem tomado um espaço cada vez maior na vida das pessoas, se torna necessário dizer que o desenvolvimento individual e coletivo se dá através de experiências e aprendizados. Cancelar alguém é de alguma forma, inibi-la de tais possibilidades, quando na realidade, ninguém é juiz de ninguém para decidir isso. Como se não bastasse, a Cultura de Cancelamento revela características tanto quanto paradoxais: ela coloca nos holofotes aqueles que deviam ser “cancelados”.

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Podcast da Folha de São Paulo, disponível nas plataformas de Streaming: Spotify, Itunes e etc

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