A atriz Fernanda Montenegro completa hoje 90 anos. A artista célebre tem 74 anos de carreira e marcou a Dramaturgia Brasileira com a sua forma singular de atuação. Um dos seus maiores trabalhos foi Central do Brasil, filme que traz um singelo retrato de regiões do país e demonstra também o talento da grandíssima Fernanda.

No enredo do filme, Dora é uma mulher que escreve cartas para pessoas analfabetas na estação do RJ; entretanto, o mais emblemático é que a mulher não envia nenhuma delas aos remetentes. Num dado momento, Dora conhece Josué e sua mãe, que desejam enviar uma carta ao pai da criança, que vive no Nordeste e não conhece o filho - Josué carrega no peito o desejo de conhecer o pai e desenha em sua mente a figura de um grande homem.

CENA DO FILME CENTRAL DO BRASIL

A história toma outro rumo quando a mãe de Josué morre e Dora se depara com problemas sérios, que comprometem a segurança dela e do garoto (é uma treta gigante que não cabe aqui ahahha). Sendo assim, Josué e Dora seguem uma grande jornada rumo ao interior do Nordeste para realizar o sonho do menino - já que os dois estavam em risco de vida no Rio.

Ainda sobre Dora, a mulher interpretada por Fernanda é claramente fria e durona, enquanto que Josué, é uma criança espivitada e sincera. O choque entre essas duas personalidades é o que torna o filme tão único. Aos poucos Dora revela o seu lado mais humano e sua personalidade fria vai se esvaindo; isso acontece justamente pela conexão com o menino, que do seu jeitinho consegue arrancar da mulher seu outro lado. Depois de vários rumos que a história toma, Josué consegue encontrar seus irmãos e então chega a hora de Dora sair de sua vida.

A personagem começa retratada como alguém fria, forte e "a ferro e fogo". Sabe-se lá pelo qual motivo (talvez decepções de outrora), Dora sempre mostrou essa face aos outros, mas com Josué, a vulnerabilidade da mulher vem ao centro novamente e é isso que torna Central do Brasil um filme lindo.

O que um representou na vida do outro? Talvez não hajam respostas. Mas depois de Josué, a vida de Dora não foi mais a mesma e vice-versa. Em suma, uma das lições que eu, particularmente, deixaria aqui, se expressa nesse poema:

"o inferno são os outros
mas o céu também" - Adília Lopes

E finalizo com uma nota de admiração. Parabéns Fernanda, você é única!

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