O Rio de Janeiro e o ativismo seletivo, com Jéssica Cristina
Com os últimos
acontecimentos no país, voltam à tona os problemas imensuráveis no estado do
Rio de Janeiro. Partindo dessa ideia, a publicação de hoje procura gerar
discussões e reflexões acerca do contexto vigente.
A morte da menina Àgatha no Rio denuncia o cenário no estado, revelando sequencialmente a postura das mais diversas ramificações sociais frente o problema. Paralelamente às últimas discussões, outras emergiram quando o presidente se pronunciou a nível internacional na Quarta-feira (24), ridicularizando temáticas também relevantes, que afetam profundamente a existência de outro grupo social: os indígenas.
Existe uma crítica a um ativismo no Brasil que não inclui todas as pautas, inclusive priorizando pontos que não são voltados intrinsecamente na existência dos que são afetados; logo, é necessário refletir sobre isso, de modo que uma pauta não exclua a outra e todas gerem mobilizações coletivas em prol de mudanças concretas.
FOTO: R. MORAES/REUTERS |
O Blog traz hoje a participação da Jéssica Cristina, que reside no Rio de Janeiro, para falar mais sobre o assunto. Segue:
1.O filme Cidade de Deus denunciava em 2002 a violência no Rio de Janeiro; pouco depois, a estreia de Tropa de Elite (outro filme brasileiro) em 2007, alimentava uma imagem dos agentes do batalhão do BOPE como heróis que combatiam o crime. Você acredita que exista essa visão ainda hoje por parte da população que se vê ameaçada? Se sim, como as políticas atuais agravam ainda mais isso?
Jéssica: Sim, atualmente vejo que quando algo hediondo acontece boa parte das pessoas não ficam indignadas mais. Parece que quando assunto são corpos pretos e favelados morrendo, que se descobre serem inocentes, a sensação é que essas pessoas ficam “ah, que pena. A violência do Rio infelizmente levou mais um” e é só isso. Eu não enxergo uma indignação real com o que está acontecendo e sim uma conivência com a situação. Quando se descobre que a pessoa é “do crime”, há uma comoção de alegria por ter sido mais um “inimigo” abatido, como no caso mais recente do homem que invadiu um ônibus no Rio de Janeiro e fez os passageiros de reféns onde ao matarem o homem até o governador do estado, ao posar de seu helicóptero, saiu aos risos comemorando a morte.
3. Por último, na sua opinião é possível enxergar no Brasil uma seletividade no ativismo? Ou seja, pessoas que denunciam apenas o que as atingem diretamente.
Jéssica: Sim, quero deixar claro que não estou aqui para passar um manual de instruções sobre como as pessoas devem militar pelas suas causas, o que tem me incomodado atualmente é ver que algumas dessas causas tem base em questões que são importantes de se compreender para que se possa ver o problema completo e resolvê-lo. Essas questões não afetam a todas as pessoas e por não as afetar (ou por não enxergarem que isso as afeta), elas acabam deixando isso de lado.
POR CARLOS LATUFF |
- Espaço aberto para considerações finais e etc.
Queria aproveitar o espaço também pra divulgar um projeto super bonito que faço parte a “Bienal da Quebrada”, nós pretendemos com ela levar para as favelas e periferias um evento literário onde teremos diversas atividades voltadas para a promoção e movimentação cultural dos moradores dessas regiões, cujo acesso é negado diariamente. No momento estamos construindo a Bienal, paralelo a isso estamos tocando o projeto de arrecadação de livros. E pra continuar estamos pedindo ajuda, pois além de levar um evento literário às periferias, queremos auxiliar outros projetos que têm a mesma missão de incentivo a literatura. Pretendemos distribuir os livros doados a esses projetos para que possam sair do papel e fortalecer os que já estão em execução. Se você tem livros que não lhe servem mais, entra em contato conosco que informaremos o voluntário mais próximo de você para pegar essa doação. Não tem livros, mas tem R$ 10 reais sobrando? Tem a nossa benfeitoria onde você pode doar até R$10 para nos ajudar a dar continuidade ao projeto. Não possui nem um nem outro, não tem problema você pode comentar sobre o projeto com a família e os amigos que também nos ajuda bastante. Qualquer tipo de ajuda realmente é superimportante pra nós.
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