O Rio de Janeiro e o ativismo seletivo, com Jéssica Cristina

outubro 07, 2019

Com os últimos acontecimentos no país, voltam à tona os problemas imensuráveis no estado do Rio de Janeiro. Partindo dessa ideia, a publicação de hoje procura gerar discussões e reflexões acerca do contexto vigente.

A morte da menina Àgatha no Rio denuncia o cenário no estado, revelando sequencialmente a postura das mais diversas ramificações sociais frente o problema. Paralelamente às últimas discussões, outras emergiram quando o presidente se pronunciou a nível internacional na Quarta-feira (24), ridicularizando temáticas também relevantes, que afetam profundamente a existência de outro grupo social: os indígenas.

Existe uma crítica a um ativismo no Brasil que não inclui todas as pautas, inclusive priorizando pontos que não são voltados intrinsecamente na existência dos que são afetados; logo, é necessário refletir sobre isso, de modo que uma pauta não exclua a outra e todas gerem mobilizações coletivas em prol de mudanças concretas.

FOTO: R. MORAES/REUTERS


O Blog traz hoje a participação da Jéssica Cristina, que reside no Rio de Janeiro, para falar mais sobre o assunto. Segue:

1.O filme Cidade de Deus denunciava em 2002 a violência no Rio de Janeiro; pouco depois, a estreia de Tropa de Elite (outro filme brasileiro) em 2007, alimentava uma imagem dos agentes do batalhão do BOPE como heróis que combatiam o crime. Você acredita que exista essa visão ainda hoje por parte da população que se vê ameaçada? Se sim, como as políticas atuais agravam ainda mais isso?
 Jéssica: Sim, a mídia reforça bastante essa ideia de que há um “inimigo” que precisa ser parado e que a polícia seria a responsável por combater esse inimigo. Para a sociedade em geral a segurança pública é centrada nas atividades da polícia, quando na verdade a segurança pública é baseada num conjunto de ações que vise assegurar a proteção da pessoa como indivíduo e da sua coletividade, além da aplicação da Justiça no que tange a punição e a garantia dos direitos e da cidadania. No cenário atual não possuímos uma polícia cidadã que está preocupada na recuperação do preso, nós vemos uma política que tem reforçado junto da mídia que a solução seria um endurecimento da repressão, principalmente em casos de crimes chocantes que acabam influenciando a opinião pública.


2. Partindo dos recentes acontecimentos, como a morte da menina Àgatha e o discurso do presidente na ONU, você acredita que exista, no atual governo, uma estratégia que paralisa a constante consciência coletiva das pessoas acerca de algum problema grave? Como declarações polêmicas que reiteram o perfil do presidente e etc.
  Jéssica: Sim, atualmente vejo que quando algo hediondo acontece boa parte das pessoas não ficam indignadas mais. Parece que quando assunto são corpos pretos e favelados morrendo, que se descobre serem inocentes, a sensação é que essas pessoas ficam “ah, que pena. A violência do Rio infelizmente levou mais um” e é só isso. Eu não enxergo uma indignação real com o que está acontecendo e sim uma conivência com a situação. Quando se descobre que a pessoa é “do crime”, há uma comoção de alegria por ter sido mais um “inimigo” abatido, como no caso mais recente do homem que invadiu um ônibus no Rio de Janeiro e fez os passageiros de reféns onde ao matarem o homem até o governador do estado, ao posar de seu helicóptero, saiu aos risos comemorando a morte.

3. Por último, na sua opinião é possível enxergar no Brasil uma seletividade no ativismo? Ou seja, pessoas que denunciam apenas o que as atingem diretamente.
  Jéssica: Sim, quero deixar claro que não estou aqui para passar um manual de instruções sobre como as pessoas devem militar pelas suas causas, o que tem me incomodado atualmente é ver que algumas dessas causas tem base em questões que são importantes de se compreender para que se possa ver o problema completo e resolvê-lo. Essas questões não afetam a todas as pessoas e por não as afetar (ou por não enxergarem que isso as afeta), elas acabam deixando isso de lado.
POR CARLOS LATUFF

  • Espaço aberto para considerações finais e etc.
Jéssica: Queria agradecer muito pela oportunidade da entrevista, de poder falar sobre coisas que eu estava assistindo acontecer ao meu redor as quais eu já estava há muito tempo querendo botar pra fora por estar me incomodando a situação, principalmente ao ver essa inércia das pessoas com o que está acontecendo. Não, não é “que pena, mais uma”. Não é um “poxa, mais uma vítima da violência do Rio”. Infelizmente nós estamos deixando isso acontecer, não estamos ganhando essa “guerra”, estamos perdendo. Crianças morrem, policiais morrem, pessoas morrem... e infelizmente permitimos isso ao deixar que uma política genocida entre em vigor.


Queria aproveitar o espaço também pra divulgar um projeto super bonito que faço parte a “Bienal da Quebrada”, nós pretendemos com ela levar para as favelas e periferias um evento literário onde teremos diversas atividades voltadas para a promoção e movimentação cultural dos moradores dessas regiões, cujo acesso é negado diariamente. No momento estamos construindo a Bienal, paralelo a isso estamos tocando o projeto de arrecadação de livros. E pra continuar estamos pedindo ajuda, pois além de levar um evento literário às periferias, queremos auxiliar outros projetos que têm a mesma missão de incentivo a literatura. Pretendemos distribuir os livros doados a esses projetos para que possam sair do papel e fortalecer os que já estão em execução. Se você tem livros que não lhe servem mais, entra em contato conosco que informaremos o voluntário mais próximo de você para pegar essa doação. Não tem livros, mas tem R$ 10 reais sobrando? Tem a nossa benfeitoria onde você pode doar até R$10 para nos ajudar a dar continuidade ao projeto. Não possui nem um nem outro, não tem problema você pode comentar sobre o projeto com a família e os amigos que também nos ajuda bastante. Qualquer tipo de ajuda realmente é superimportante pra nós.

REDES SOCIAIS DO PROJETO BIENAL DA QUEBRADA:


AGRADECIMENTOS ESPECIAIS À JÉSSICA QUE COLABOROU COM A PUBLICAÇÃO, DEDICANDO UM POUCO DE SEU TEMPO E ATENÇÃO!

  • Share:

You Might Also Like

0 comentários