Carolina Maria de Jesus, uma leitura essencial

janeiro 14, 2020


“ Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá...isto é mentira! Mas, as misérias são reais” Carolina Maria de Jesus

Décadas atrás, a publicação de "O quarto de Despejo-Diário de uma favelada" denunciava a situação vulnerável de pessoas em extrema pobreza no Brasil e, o descaso do Estado com tal realidade. Carolina, em seu diário, traz uma narrativa incrivelmente autêntica, fazendo-lhe refletir sobre a constante da miséria no país.

É importante destacar, antes de tudo, a maestria  de Carolina ao narrar os fatos em seu Diário. De maneira poética, com um misto de ironia e revolta, as palavras da escritora traduzem o sentimento daquela gente, sendo possível perceber que se algo precisa ser ouvido, este algo é A Voz do Povo.
O livro dividido por datas, apresenta o cotidiano de uma família que reside na favela do Canindé – Carolina e seus três filhos: Vera Eunice, José Carlos e João José. Sobrevivendo da coleta de lixo é que os quatro enfrentam a dura realidade na metrópole paulista, enquanto alguns episódios na comunidade perpassam brevemente o substantivo que rodeia o lugar: a fome.
FOTO PINTEREST

Do Nordeste ao Sudeste, a pobreza é visível no histórico de boa parte da população. Em O quarto de despejo, Carolina traça os desafios por ela vividos para o sustento de seus filhos - desde pegar comida do lixo até deixar de comer para dar aos menores. Durante a narrativa, a escritora apresenta com um toque excepcional o seu sentimento de indignação com isso. Em suas palavras não há nada pior que a fome - " a fome dói" - e sonhar acordada, em alguns momentos era o seu único refúgio.
"O Brasil precisa ser dirigido por alguém que já passou fome,pois a fome também é professora”
As críticas ao governo elitista também têm grande palco na obra da autora. É com uma dose de sarcasmo que ela denuncia o abandono do Estado e as migalhas dadas ao povo, deixando lições atemporais a todos os leitores - inclusive esta última, que merece lugar especial por sua exatidão.

Carolina é grande e sua literatura é do mesmo modo. A leitura de sua obra traz uma reflexão indispensável, abrangendo questões de raça e classe. São denúncias antigas que permanecem ainda hoje, infelizmente, no seio da sociedade brasileira, desenhando então a intensa linha de desigualdade no país.


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